terça-feira, 26 de maio de 2009

Por que meus alunos nao leem? Nao é elementar, meu caro professor.

Compartilho lindo texto produzido pela profa. Diza lá de Petrolina. Deliciem-se com essas saborosas palavras. Ao deleite!

“Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler.É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“(Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).Risalva Nascimento. Sempre me reporto a ela quando penso e falo sobre o prazer de ler. Você deve estar se perguntando: “Mas, quem é ela? Deve ser alguma nova teórica da qual ainda não ouvi falar.” Eu respondo: não é nenhuma nova estudiosa sobre o assunto. É minha mãe. Minha referência quando o assunto é o prazer de ler porque foi com ela que senti os primeiros desejos e delícias da leitura. Ela, apesar de seus seis filhos e de todos os afazeres domésticos demandados especialmente por eles, lia sempre e muito. A maioria das minhas recordações de infância em que ela está, vejo-a com uma revista de fotonovelas, um romance Sabrina ou um de José de Alencar. Detalhe: ela só freqüentou a escola durante dois ou três anos, mas o prazer com que lia e se envolvia nas histórias era visível, quase palpável para mim. Especialmente contagiante, envolvente. Impossível ficar indiferente. Nem tentei.
Comecei assim a minha história de leitora. Durante a minha infância e adolescência, li praticamente de tudo, de Sabrina a Sidnei Sheldon, de Jorge Amado a Tex. (vai fingir que não conhece para não denunciar sua idade ?!! rs).
Quando iniciei meu trabalho como professora e as primeiras indagações sobre o fato de muitos dos meus alunos não gostarem de ler surgiram, pensei que partindo desse ponto, conseguiria, facilmente, encontrar as respostas (que todo professor de Português procura tão avidamente). Enganei-me, percebo agora. As coisas não são assim tão simples. As leituras que tenho feito e as situações pelas quais tenho passado (em uma conversa com alunos sobre o prazer de ler, um deles declarou: depois que eu passar em um concurso e estiver trabalhando em um órgão federal, a gente conversa sobre isso) me mostram que a questão é muito mais complexa e carece de muito mais reflexão e estudo.
Rubem Alves relaciona leitura e música e afirma que quando a mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar, este se tranquiliza e dorme mesmo nada sabendo sobre notas. Sendo assim, aprender a gostar de ler é possível e não passa, necessariamente, por dominar determinadas teorias. Segundo ele, tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.Conforme Rubem, já na escola, as delícias do texto se encontram na fala do professor, que passa a ser o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão.
Por sua vez, Alberto Manguel, em Uma história da leitura, faz um relato sobre sua experiência como leitor e cita a possibilidade de libertação que a leitura individual faculta ao leitor, que através dela pode encontrar os seus caminhos sem a necessidade de nenhum cicerone.
Agora, estudando o TP4 encontro Ângela Kleiman falando sobre o assunto e acendendo mais uma luz. Ela cita a falta de acesso, a formação precária dos professores, a falta de ambientes propícios à formação de leitores e os equívocos cometidos por estudantes e escolas ao confundirem a leitura com a decifração e cópia de letras a partir de regras memorizáveis.
De fato, os caminhos para despertar o prazer pela leitura em um mundo tão capitalista são muitos e o Gestar está contribuindo na minha busca por respostas. Continuarei lendo, refletindo, buscando, tentando contagiar meus alunos com o meu prazer de ler. Por enquanto, uma certeza: não é elementar. Não é simples encontrar respostas para a pergunta inicial. Enquanto isso, vou me deliciando ao observar, ao meu lado, um pai lendo “O Pequeno Príncipe” para seu filho que, quase cochilando, pergunta “pai, o que quer dizer `tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?” Vejo a mágica acontecendo novamente? É mais uma criança sendo cativada pelas delícias da leitura ?
Fonte: http://rivaldizia.blogspot.com/

sábado, 16 de maio de 2009

A importância do portfólio

Portfólio Reflexivo Eletrônico como instrumento de avaliação

O portfólio reflexivo representa um importante instrumento de avaliação e auto-avaliação da aprendizagem, podendo ser caracterizado como uma prática educacional e avaliativa de caráter emancipatório (ALARCÃO e TAVARES, 1999; SÁ-CHAVES, 2000; 2005). Conceitos como pertinência, legitimidade, metacognição, auto-regulação, regulação sistêmica e prática reflexiva remetem para a possibilidade de reflexão do processo por parte do tutor, bem como do desenvolvimento da autonomia do aluno.
Além disso, no contexto de formação profissional e pessoal, o portfólio reflexivo, na medida em que possibilita a análise da realidade e da prática pedagógica no confronto com a teoria, permite que o tutor e o aluno construam um sentido para a teoria, compreendam melhor a coerência de sua ação em relação ao paradigma que a delineia, reorganizando sua intervenção na realidade.
O portfólio é uma possibilidade de revelar e dar visibilidade aos processos de cada tutor, mediante avaliação e crítica pelos pares, explicitando as concepções, a prática, a auto-avaliação reflexiva e o progresso no percurso discente e docente. O registro de uma experiência de processo de avaliação participativa que envolve portfólios traz a possibilidade de análise do dispositivo pedagógico, porque a constituição do discurso pedagógico ocorre a partir de regras específicas. Para Bernstein, as regras distributivas são aquelas pelas quais o dispositivo pedagógico controla a relação entre poder, conhecimento, formas de consciência e prática no nível da produção do conhecimento. Elas marcam e distribuem quem pode transmitir o quê, a quem e sob que condições e assim tentam estabelecer limites interiores e exteriores ao discurso legítimo, ao mesmo tempo em que possibilitam a instalação de uma nova ordem (BERNSTEIN, 1996).
A construção é individual por parte do tutor, mas coletiva do ponto de vista dos seus alunos, porque o processo de discussão e avaliação deve se dar de forma participativa, periodicamente, em sala de aula e no ambiente virtual durante o período do curso. Assim, o formato eletrônico dado ao portfólio (BLOG), traduz a subjetividade, o processo metacognitivo e as possibilidades de cada tutor interagir com as novas tecnologias.
Levy (In ESCOTT & POLIDORI, 2006, p. 33) “afirma que vivemos hoje em uma destas épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem das representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação sociais ainda pouco estabilizados”. Propor a utilização das novas tecnologias e das redes de computadores como ferramenta de registro do portfólio reflexivo objetiva, sobretudo, ampliar as possibilidades de discussão, transcendendo o espaço de sala de aula e do grupo social imediatamente próximo, buscando, também, democratizar e desenvolver a aquisição de novas competências no uso de diferentes linguagens.
Cabe ressaltar que o portfólio reflexivo difere de outros instrumentos como a organização de pastas onde os documentos são catalogados. Esse instrumento, diferentemente de uma simples compilação ou anotações de aula, deve trazer os registros das reflexões, relações e etapas que os tutores percorrem no processo de construção do conhecimento, sistematizando a aprendizagem e possibilitando a relação com a prática pedagógica. O tutor define o formato e os conteúdos a serem registrados, respeitando os critérios ou indicadores estabelecidos coletivamente, definindo seu próprio caminho de aprendizagem. O foco central da avaliação passa do controle externo para o controle interno ou autonomia, envolvendo o aluno no processo da aprendizagem e direcionando o ensino. Existem muitos formatos de portfólio. Segundo Simão (2005), podem ser destacadas sete características essenciais para utilização de um portfólio:

1) explicitação dos objetivos, de forma que os alunos tenham clareza do que necessitam e querem aprender;
2) integração entre as teorias desenvolvidas na disciplina e a ação profissional do acadêmico – relação entre teoria e prática;
3) autenticidade, já que o objetivo principal desse trabalho centra-se no estabelecimento das relações entre o que é discutido no espaço de formação e as evidências das aprendizagens individuais;
4) multiplicidade de recursos, considerando que cada tutor definirá as formas de registro e manifestação do seu processo subjetivo e cognitivo;
5) dinamismo, porque registra as mudanças e o crescimento do tutor e do aluno durante o processo, por vezes redirecionando-o;
6) autonomia e autogestão do próprio tutor, já que impõe reflexões pessoais sobre a ação educativa; e
7) ampliação dos objetivos estabelecidos para o desenvolvimento do curso, de forma a contemplar os objetivos pessoais e profissionais, além de permitir a avaliação do próprio curso.

A essas características pode-se somar a democratização do processo de planejamento e avaliação do ensino e da aprendizagem, por meio da socialização do poder e das decisões em relação ao processo de aprendizagem.
Considerando que a avaliação participativa, mediante o uso de portfólios reflexivos, toma por base a responsabilidade democrática (LEITE, 2005) e a autonomia, faz-se necessário que o ambiente de aprendizagem seja planejado e encaminhado de forma a contemplar a compreensão coletiva dessa nova ordem, desde o primeiro contato com os tutores e alunos, estabelecendo um contrato claro, socializando as possibilidades advindas desse processo, das características dos instrumentos e da concepção que sustenta a prática docente e discente.
A avaliação participativa proporcionada pelos portfólios reflexivos deve possibilitar a redefinição dos critérios da prática pedagógica ao longo do curso, permitindo uma visão diagnóstica do processo ensino-aprendizagem e a autogestão do tutor e do aluno, bem como a adequação das ações de ensino, aprendizagem e avaliação a partir das necessidades e possibilidades de todos os envolvidos no percurso de formação.

Objetivo Geral:
- Registrar as relações críticas, por meio da construção de portfólio, que expresse o processo de ensino e aprendizagem, com aprofundamento teórico e contextualização do conhecimento a partir de uma práxis participativa.

Competências:- Criticidade;- Pensamento reflexivo;- Perfil investigativo;- Comprometimento com o coletivo;- Tolerância ao erro;- Contextualização da teoria e da prática;- Metavaliação;- Competência textual;
- Competência computacional.

Critérios de Avaliação do Portfólio
O portfólio eletrônico (BLOG) é uma construção gradual, que passa por várias dimensões, que detalharemos a seguir. O resultado final, a dimensão C, é a síntese das anteriores. Assim, será atribuída apenas uma menção ao final, seguindo os critérios da UnB, considerando-se aprovado o tutor que atingir no mínimo MM. Para atingir essa menção, o portfólio será avaliado, no último encontro do curso, pelos formadores e por dois colegas a serem sorteados, que atribuirão notas de 0 a 10.

Dimensão A - Leitura/Pesquisa

Nível 1: Leu todos os textos com postura crítica, estabelecendo relações entre autores, compreendendo os conceitos /categorias.
Nível 2: Leu os textos, estabelecendo parcialmente as relações entre os autores, compreendendo parcialmente os conceitos /categorias.
Nível 3: Leu parcialmente os textos, não estabelecendo relações entre os autores, sem compreensão dos conceitos/categorias.
Nível 4: Não realizou a leitura dos textos.
Dimensão B- Discussão

Nível 1: Refletiu e analisou todo o conteúdo, participando das discussões em grande grupo ou pequeno grupo com relatos e reflexões da teoria e da prática.
Nível 2: Refletiu e analisou o conteúdo em grandes ou pequenos grupos com relatos e reflexões da teoria e da prática de forma parcial.
Nível 3: Não conseguiu refletir e analisar o conteúdo e participou apenas quando solicitado.
Nível 4: Não refletiu e analisou todo o conteúdo, não participou das discussões em grande grupo ou pequeno grupo com relato e reflexão da teoria e da prática.
Dimensão C - Registro/Produção (Blog)

Nível 01- Realização das atividades propostas a partir do registro do Portfólio com responsabilidade e observação das datas estabelecidas. Clareza das idéias propostas. Articulação entre teoria e prática. Observação dos elementos textuais e metodologia (citações e autorias).
Nível 2- Realização parcial das atividades propostas a partir do registro do Portfólio com responsabilidade e observação das datas estabelecidas. Dificuldade na clareza das idéias propostas, no estabelecimento de relações entre teoria e prática, e nas regras metodológicas.
Nível 3- Realização de produção frágil em relação aos critérios definidos nos níveis 1 e 2.
Nível 04- Não fez o registro das atividades propostas utilizando o Portfólio.

Organização do Registro Eletrônico do Portfólio – BLOG
O material a ser postado no BLOG deve estar organizado inicialmente em três seções temáticas: 1) Relatos da história de vida do tutor e suas implicações na formação profissional; 2) Pesquisa, reflexão e produção textual a partir dos fascículos e bibliografia recomendada ao longo do curso; e 3)Registro das experiências desenvolvidas com e pelos alunos.

A postagem das contribuições deve ser, ao menos, quinzenal, para que os formadores possam acessar o ambiente e interagir com os tutores.
Para conhecerem um pouco dessa prática, visitem dois exemplos de portfólios eletrônicos já desenvolvidos:
http://portfolioreflexivo.weblogger.terra.com.br/
http://daniportfolio.blog.terra.com.br/


REFERÊNCIAS:
ALARCÃO, Isabel; TAVARES, José. Portfólio docente e qualidade de ensino. I Simposium Iberoamericano de didáctica universitaris. La calidad de la docência em la Universidade de Santiago de Compostela. Dezembro de 1999.
BERSTEIN, BASIL. A estruturação do discurso pedagógico: classe, códigos e controle. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
ESCOTT, Clarice Monteiro; POLIDORI, Marlis Morosini. Portfólio Reflexivo On Line e Off Line. XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Anais. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2006.
LEITE, D. Reformas Universitárias. Avaliação institucional participativa. Petrópolis: Vozes, 2005.
SÁ-CHAVES, Idália. "As narrativas nos portfólios: uma estratégia de desocultação para ajudar a pensar". In: Portfólios reflexivos: estratégia de formação e de supervisão. Aveiro: Universidade, 2000.
SCHENKEL, Maria Benincá. "Professor reflexivo: da teoria à prática." In: SÁ-CHAVES, Idália. (org.) Os portfólios reflexivos (também) trazem gente dentro: reflexões em torno do seu uso na humanização dos processos educativos. Portugal, Porto: Porto Editora, 2005.
SIMÃO, Ana Maria Veiga. "O portfólio como instrumento na auto-regulação da aprendizagem: uma experiência no ensino superior pós-graduado." In: SÁ-CHAVES, Idália. (org.) Os portfólios reflexivos (também) trazem gente dentro: reflexões em torno do seu uso na humanização dos processos educativos. Portugal, Porto: Porto Editora, 2005.

[1] Texto organizado por Rita de Cácia Vieira M. de Sousa, Antônio Alves de Siqueira Júnior e Dioney Moreira Gomes a partir das orientações baseadas na experiência desenvolvida na UFSC, no Curso de Pedagogia, pela Profa. PhD. Clarice Monteiro Escott, no projeto de elaboração do Portfólio Reflexivo online/off-line. Ano 2007.